Houve um tempo onde a embalagem de 20 litros para água mineral era de vidro. Pesada, muito trabalhosa no seu manuseio e principalmente, com muitos acidentes pela sua quebra e cortes graves nos usuários.Depois de muitas reclamações, as pesadas embalagens de vidro foram substituídas pelas de plástico. Mais leves, sem perigo de quebrarem e mais fáceis de serem transportadas e manuseadas.
Passadas algumas décadas do seu uso, notícias recentes na mídia sobre a contaminação de algumas águas minerais, levantam suspeitas sobre a embalagem de 20 litros. Para compreender se há relação entre contaminação e a embalagem, é preciso entender como se dá o processo de industrialização da água, considerando desde a captação até o envase.
Alguns empreendimentos localizados em áreas urbanas, podem apresentar riscos de contaminação bacteriológica pela presença de esgotos sanitários ou industriais. Em outros casos, a contaminação pode ser proveniente muitas vezes da decomposição de matéria orgânica em processos naturais.
Outra possibilidade de contaminação diz respeito a forma escolhida para captação de água, podendo ser poço tubular profundo ou fonte, que a depender da forma como foi construído – uso de equipamentos e materiais inadequados e a falta de manutenção – podem também levar a contaminação bacteriológica da água.
Na distribuição e nos reservatórios semelhantes a captação, a falta de equipamentos, manutenção inadequada e também assepsia gerariam a sua contaminação também.
Finalmente, a água chega até as máquinas para o envase, onde se deve ter também cuidados em relação a assepsia e higienização das embalagens, principalmente as retornáveis como é o caso das embalagens de 10 e 20 L.
Portanto, nesta seqüência pode-se querer aferir as embalagens a causa da contaminação, mas, em qualquer uma das etapas anteriores, a água já pode ter sido contaminada.
Partindo-se do pressuposto que a água chegue ao envase isenta de qualquer problema, como se dá a sua contaminação das embalagens retornáveis.
Uma das formas mais comuns de contaminação é através da ineficiência do processo de assepsia.
As embalagens retornáveis, passam por um processo automático de lavagem com produtos sanitizantes como ácido nitroso, soda cáustica e hipoclorito de sódio, seguido da higienização com água mineral a temperaturas que variam de 75 a 80 ºC. Após a lavagem os vasilhames são enchidos e tampados automaticamente, passando ainda por uma câmara germicida com raios ultravioleta, que completa o processo. Nestas condições, todos os principais microorganismos comuns às águas são eliminados.
Os resultados junto as mineradoras que realizam análises de monitoramento dos produtos envasados, revelam números bastante satisfatórios. A não-eliminação dos contaminantes microbacteriológicos nos produtos de embalagens retornáveis ocorreu por falhas no processamento, principalmente quando as temperaturas não alcançaram valores a 80 ºC ou se o processo não era totalmente automatizado, com contato manual dos funcionários na limpeza e envase – fato comum no setor.
Um segundo fator que se revela como um elemento a ser investigado, mas, que tem apontado como responsável pela ineficiência da assepsia dos retornáveis, é o tipo de embalagem utilizada.
Há dois tipos de embalagens de 10 e 20 L que são mais comumente usadas: a de polipropileno e a de policarbonato, sendo esta última mais indicada para acondicionamento de água mineral, em razão desta resistir as temperaturas utilizadas no processo de higienização. Ao contrário das embalagens de polipropileno, que por não resistirem a estas temperaturas, são processadas a temperaturas inferiores e não eliminam os contaminantes microbiológicos de forma satisfatória.
Portanto, a combinação de embalagens inadequadas e de processamento industrial insatisfatório, somado também aqueles fatores descritos anteriormente, leva a maior incidência de contaminação e alerta para a necessidade do gerenciamento integrado: controle ambiental/perímetro de proteção da fonte – captação – distribuição – armazenamento – envase (processo automatizado e embalagens adequadas), todos monitorados por análises periódicas.
Artigo publicado na Revista Engarrafador Moderno #90 em Outubro de 2001